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Matrix Decodificado: A Carta de Amor Trans das Irmãs Wachowski (E a Verdade Sobre a Pílula Vermelha)

  • Foto do escritor: Paula Lavigne
    Paula Lavigne
  • 23 de nov.
  • 8 min de leitura

Olá, meus amores! Tudo bem com vocês? 💖


Se tem uma coisa que eu amo, além de um bom look com pegada punk-rock e uma make impecável, é mergulhar em histórias que nos representam. Hoje, eu quero convidar você para "sair da Matrix" comigo. Mas não estou falando apenas de ficção científica, estou falando sobre a nossa realidade, nossa pele e nossa alma.



Matrix Decodificado: A Verdade Trans - por Paula Lavigne Silva

Muitas de nós crescemos assistindo Matrix (1999). A gente vibrava com as lutas, com o visual de couro preto (super tendência, né?) e com a ideia de um mundo oculto. Mas, por anos, uma verdade ficou escondida nas entrelinhas do código verde daquele universo. Uma verdade que toca o coração de qualquer pessoa trans, travesti, crossdresser ou não-binária.


Hoje, vamos falar sério sobre como Lilly e Lana Wachowski escreveram uma das maiores alegorias sobre transição de gênero da história do cinema. Pega seu café, senta confortável, porque a conversa é profunda.


As Criadoras por Trás do Código: A Transição das Irmãs Wachowski


Gente, antes de mais nada, vocês sabiam desse fato importantíssimo? As mentes brilhantes responsáveis por criar todo esse universo transicionaram na vida real! Sim! Lana e Lilly Wachowski são duas mulheres trans. 🏳️‍⚧️


O que deixa tudo mais intenso é o timing. O primeiro filme saiu em 1999. A Lana assumiu sua identidade publicamente por volta de 2010/2012 (mais de uma década depois do filme), e a Lilly se assumiu em 2016.


Ou seja: quando elas escreveram Matrix, elas estavam vivendo exatamente o conflito interno do protagonista. Elas estavam dentro da "caverna", sentindo que algo não batia com a realidade que viviam. Escrever o filme foi a forma que elas encontraram de processar essa dor e esse desejo de liberdade antes mesmo de conseguirem se libertar socialmente.


É de arrepiar, né?


A Revelação Oficial: "O Mundo Não Estava Pronto"


Durante anos, teorias circulavam em fóruns na internet. A gente sentia aquela sensação de "eu entendo o que o Neo está sentindo" não era por acaso. Mas foi só recentemente que a confirmação veio de forma oficial.


Em uma entrevista icônica para o Netflix Film Club, Lilly Wachowski abriu o jogo. Eu até separei a fala dela para a gente refletir juntas:

"Estou feliz que as pessoas estejam falando sobre os filmes de Matrix com uma narrativa trans. Eu amo o quão significativas essas obras são para as pessoas trans e o jeito que elas vêm até mim e dizem: 'Esses filmes salvaram a minha vida'. (...) A intenção original era essa, mas o mundo não estava pronto, a nível corporativo… O mundo corporativo não estava pronto para isso." — Lilly Wachowski

Amiga, olha o peso disso. Elas esconderam a revolução delas dentro de um filme de "tiro, porrada e bomba" para que a mensagem chegasse até nós, numa época em que a gente mal via representatividade na TV.


O Caso "Switch": A Personagem que a Warner Barrou


Você lembra da personagem Switch? Aquela loira, de branco, que faz parte da tripulação do Morpheus? O nome dela (que em inglês significa "Trocar" ou "Mudar") não é aleatório.


No roteiro original escrito pelas irmãs, Switch seria uma representação explícita da experiência trans. A ideia era genial:


  • No mundo real (fora da Matrix), Switch seria um homem.

  • Dentro da Matrix (que é uma projeção mental do seu "eu residual"), ela seria uma mulher.


Isso seria a representação perfeita de como muitas de nós nos sentimos antes ou durante a transição. O corpo físico não acompanha a mente, mas, em nosso interior, sabemos exatamente quem somos. Infelizmente, a Warner Bros (o estúdio) achou o conceito "confuso demais" para a cabeça do público de 1999 e cortou essa dualidade. Mas nós sabemos a verdade: a identidade mental é mais forte que o corpo físico.


A Pílula Vermelha e o Segredo do Estrogênio 💊


Essa é a minha curiosidade favorita e, quando descobri, minha cabeça explodiu! A escolha entre a pílula azul (ficar na ignorância) e a pílula vermelha (acordar para a verdade) é o coração do filme.


Mas, nos anos 90, a pílula de estrogênio mais comum receitada para mulheres trans nos Estados Unidos se chamava Premarin. E adivinhem a cor dela? Exatamente. Vermelha.


Para Lana e Lilly, fazer o Neo tomar a pílula vermelha era uma metáfora direta para a Terapia Hormonal. Era sobre aceitar ingerir algo que vai mudar a sua química e o seu corpo, para que você possa finalmente viver a verdade, por mais dolorosa que a adaptação seja no início.


"Uma Lasca na Mente": A Descrição Perfeita da Disforia


Tem uma cena no começo do filme em que o Morpheus diz para o Neo:

"Você sabe que há algo de errado com o mundo. Você não sabe o que é, mas está lá, como uma lasca na sua mente, te deixando louco."

Para quem é cisgênero, isso é mistério. Para nós? É a descrição exata da Disforia de Gênero. É aquele sentimento que eu tive por tantos anos. A sensação de que o papel que a sociedade te deu (ser menino, agir "como homem") é uma farsa, uma atuação.


Quando a gente se monta, quando a gente se maquia, quando eu coloco meu coturno e meu batom rosa, eu estou tirando essa lasca. Eu estou hackeando o sistema.


O Agente Smith e o "Deadnaming"


Você já reparou como o Agente Smith odeia o Neo? E reparou como ele fala com o protagonista? O tempo todo, Smith insiste: "Senhor Anderson". Neo corrige: "Meu nome é Neo".


O vilão representa o sistema binário, a família conservadora ou o chefe careta. O Agente Smith pratica o que chamamos de Deadnaming (usar o nome morto). Ele tenta forçar o Neo a voltar para a caixinha do "Sr. Anderson". A luta do filme é pelo direito de se nomear.


E você? Ainda está sentindo essa "lasca na mente"?


Eu quero te dizer que a "Zion" (o mundo real e livre) existe. E ela é muito mais colorida do que no filme! Tem muito rosa, muito brilho e muito acolhimento.


Saber que Matrix é uma obra de arte criada por duas mulheres trans me dá uma força absurda. Mostra que nossa vivência é complexa, filosófica e heróica. Eu, Paula, sinto que estou hackeando a Matrix todos os dias. Quando saio na rua, quando crio conteúdo, quando amo minha esposa Becca, estou dizendo "NÃO" ao sistema que queria que eu fosse infeliz e "SIM" para a mulher que eu sou.

A Vida Dupla: Thomas Anderson vs. Neo (E o Nosso "Boymode")


Aqui a filosofia fica pesada, amiga. No começo do filme, o Agente Smith diz uma frase que define a vida de quase toda pessoa trans antes de se assumir:

"O senhor tem uma vida dupla. Em uma, é Thomas A. Anderson, trabalha para uma grande empresa de software, tem número de seguro social e paga seus impostos... A outra vida é vivida em computadores, onde atende pelo apelido de Neo."

Quantas de nós não vivemos exatamente isso? Durante o dia, no trabalho ou com a família, interpretamos o "Thomas Anderson". Aquele personagem "conformado", que segue as regras, usa as roupas que esperam dele e finge que está tudo bem. É o que chamamos de Boymode (modo menino). É uma performance exaustiva para agradar a sociedade.


Mas, à noite, ou nos finais de semana (ou na internet), nós somos "Neo". Nós somos livres, perigosas, coloridas. A gente vive essa dualidade até não aguentar mais. O filme nos diz que Thomas Anderson é a máscara, e o hacker fora da lei é quem ele realmente é. A sociedade diz que você é a máscara, mas você sabe que é a alma rebelde por baixo dela.


O Ritual de "Logar": Se Montar é Entrar no Real ou na Fantasia?


O filme traz o conceito de Autoimagem Residual (Residual Self Image). Morpheus explica que, quando você entra na Matrix, você projeta a imagem de como você se vê mentalmente.


Vamos filosofar juntas? Para o mundo cis, quando a gente se monta... coloca a peruca, faz a make, põe o salto, eles acham que estamos vestindo uma "fantasia". Que estamos entrando na ilusão. Mas a verdade (e Matrix ensina isso) é o oposto.


  • Quando estamos "desmontadas", de cara lavada, vivendo como homens, essa é a fantasia. Esse é o disfarce para sobreviver na Matrix do sistema.

  • Quando nos montamos, quando nos produzimos, estamos projetando nossa Autoimagem Residual Verdadeira.


Sabe aquela sensação de tirar a make, tirar a peruca no fim da noite e sentir uma tristeza profunda? É a dor de ser desconectada da sua verdade. É como se, ao "desmontar", a gente fosse obrigada a voltar para aquela cápsula gosmenta onde o corpo não obedece à mente. O nosso "glamour", o nosso rosa e o nosso brilho não são futilidades; são a manifestação da nossa alma tentando gritar quem ela é.


O Dilema de Cypher: O Bife e o Conforto do Armário 🥩


Nem todo mundo quer a pílula vermelha. E o filme mostra isso de forma brutal com o personagem Cypher. Ele trai seus amigos porque está cansado. Ele diz: "Eu sei que esse bife não existe... Mas quando eu coloco na boca, a Matrix diz pro meu cérebro que ele é suculento e delicioso. Sabe o que eu percebi? A ignorância é uma benção."


Cypher representa o medo paralisante. Ele representa aquelas pessoas que sabem que são trans, sabem que vivem uma mentira, mas preferem o conforto do armário (a Matrix) porque o mundo real é difícil, é frio, é perigoso. Enfrentar a sociedade, perder privilégios masculinos, lidar com o preconceito... tudo isso é o "deserto do real". É tentador "comer o bife fake" e fingir que somos cisgêneros para não sofrer. Mas o filme nos dá o veredito: viver na ignorância é vender a sua alma. O conforto da mentira nunca vai superar a liberdade da verdade, mesmo que a verdade seja difícil. O Neo escolhe arriscar tudo, inclusive a vida, para não ter que fingir mais.


O Código Binário e a Quebra do Sistema


Matrix é todo construído em código binário (0 e 1, verde e preto). Isso é a metáfora visual perfeita para o Binarismo de Gênero (Homem e Mulher). O sistema foi desenhado para só aceitar duas opções. Se você não é 0, tem que ser 1. Mas o Neo é "O Escolhido" (The One). Ele é uma anomalia. Ele consegue dobrar as regras. Ele voa. Ser trans, travesti ou não-binária é exatamente isso: é olhar para um sistema que diz "você só tem duas opções" e responder "eu sou a anomalia que vai hackear essa p... toda". A gente existe entre o 0 e o 1, ou fora deles. Nós somos o bug no sistema que prova que a realidade é muito mais vasta do que nos contaram.


A Minha Visão (e o Convite para a Sua)


Reforço o que disse no inicio desse texto, saber que Matrix é uma obra de arte trans me dá uma força absurda. Mostra que nossa vivência é complexa, filosófica e heróica. Eu, Paula, sinto que estou hackeando a Matrix todos os dias. Quando saio na rua, quando crio conteúdo, quando amo minha esposa Becca, estou dizendo "NÃO" ao sistema que queria que eu fosse infeliz e "SIM" para a mulher que eu sou.

E você? Vai continuar comendo o bife falso do Cypher ou vai aceitar o convite para ver "quão profunda é a toca do coelho"? Eu quero te dizer que a "Zion" (o mundo real e livre) existe. E ela é muito mais colorida do que no filme! Tem muito rosa, muito brilho e muito acolhimento.


Vamos Hackear o Sistema Juntas? 🎸✨


Se esse texto tocou você, se você sentiu que precisa de um lugar seguro para conversar sobre essa "pílula vermelha" e sobre ser você mesma, eu tenho um convite especial. O meu canal no YouTube não é só sobre vídeos, é sobre construir uma comunidade de resistência e afeto. E eu criei espaços exclusivos para a gente estar mais perto:


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Com amor, orgulho e atitude,

Paula Lavigne Silva



1 comentário


Julia Nandez
Julia Nandez
24 de nov.

Adorei esse resumo toda.

Você resumiu tudo muito bem sobre o filme, já tinha visto umas matérias sobre Matrix e esses significados, mas acho que o seu foi dos mais bem explicados que já li... Muito bom, Paulinha ☺️❤️

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Deborah Pausini | Studio Debbi de Criação

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